Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública leva em conta dados do primeiro semestre de 2022 em comparação com mesmo período de 2023. De janeiro até 15 de novembro deste ano Brasília somou 31 feminicídios.
O Distrito Federal teve um aumento de 250% no número de feminicídios na comparação entre o primeiro semestre de 2022 e o mesmo período de 2023, e se tornou a unidade da federação com o maior número de mortes de mulheres por questões de gênero. O levantamento é do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e foi divulgado na última segunda-feira (13).
Conforme o estudo, houve um salto de seis casos no primeiro semestre de 2022 para 21 casos no primeiro semestre deste ano. No Brasil, de acordo com o FBSP, os 722 feminicídios registrados na primeira metade deste ano representam o maior número da série histórica para um primeiro semestre já registrado pela entidade desde 2019.
Na capital federal, de janeiro até 15 de novembro, foram registrou 31 assassinatos de mulheres por questões de gênero. Na última quarta-feira (15), uma jovem de 20 anos foi morta a tiros pelo companheiro, de 33 anos, na região de Planaltina.
Para a pesquisadora e antropóloga do FBSP Marina Bohnenberger, o feminicídio é a “ponta do iceberg” em uma série de violências que são atendidas pela rede de proteção em geral. Segundo ela, diversas ameaças antes do crime de feminicídio não estão chegando às autoridades.
“A Polícia Civil do DF tem uma política de boletim de ocorrência eletrônico que prioriza os casos de violência doméstica, e que tem como principal objetivo evitar os feminicídios. A mulher pode fazer um BO pela internet e receber uma viatura da Polícia Civil rapidamente. Mas, claramente, essa política não está funcionando, não está chegando em quem precisa, ou não é acessível”, diz Marina Bohnenberger.
Para a pesquisadora, “esses gargalos nas políticas de proteção precisam ser respondidos”. Outro exemplo citado por ela, em relação ao Distrito Federal, é que 5,6% das vítimas de feminicídio tinham medida protetiva de urgência, o que deveria garantir que o agressor não pudesse chegar perto delas.
“Esse é mais um indício de que o ciclo de proteção não está sendo cumprido”, diz Bohnenberger. A antropóloga também questiona a forma como são feitos os registros dos casos de violência doméstica.
“O feminicídio é um qualificador do homicídio no DF. Em 2022, 31% dos homicídios de mulheres eram feminicídios. Essa proporção subiu para 75% em 2023. É de se perguntar: os feminicídios estavam sendo mal registrados no DF, estavam subnotificados? De todo modo, é um aumento muito significativo que precisa ser levado a sério por toda a rede, que inclui as polícias e o poder judiciário, mas não apenas elas”, diz a pesquisadora.
Para a delegada-chefe da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM)de Ceilândia, Letízia Fernandes, o feminicídio é um fenômeno multifatorial, o que significa que diversas variáveis podem levar a esse trágico desfecho.
“Um exemplo é a questão cultural, na qual a sociedade machista cria meninos machistas e meninas que aceitam a violência contra elas, sem questionar. Mudar essa cultura demanda um grande esforço, a começar pela educação dessas crianças para que a próxima geração seja diferente”, afirma a delegada.