O último caso aconteceu nesta quarta-feira (29/3), em uma unidade de ensino particular, em Águas Claras. Outros três episódios de mesma natureza foram registrados na rede pública de ensino desde 20 de março.
De 20 de março até esta quarta-feira (29/3), famílias de estudantes de quatro escolas do Distrito Federal ficaram apreensivas com a veiculação de ameaças de ataques e massacres. Os três primeiros casos foram em unidades da rede pública de ensino em Santa Maria, Candangolândia e Riacho Fundo 2. O mais recente ocorreu nesta quarta-feira (29/3), em uma escola privada, em Águas Claras.
A direção do estabelecimento acionou o Batalhão Escolar após um adolescente, de 13 anos, criar um perfil em uma rede social e ameaçar os colegas do 6º, 7º e 8º ano. “Apenas orem e rezem ao seu deus. Aproveitem enquanto podem. Amanhã (quarta-feira) será o grande dia”, escreveu o aluno, que cursa o 8º ano e, em uma das postagens, afirmou que sofre bullying.
De acordo com a Polícia Civil (PCDF), o ataque seria um atentado a bomba, mas, na casa dele, não foram encontrados itens ilícitos e nem artefatos explosivos. Os pais do estudante estiveram na escola para falar com a diretoria e com a Polícia Civil. Em seguida, foram encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA).
Para Ana Izabel Gonçalves de Alencar, presidente da Comissão de Segurança Pública da Ordem dos Advogados do DF (OAB-DF), episódios como esses são consequência da relação que os pais e os filhos têm com o mundo virtual e que resulta em distanciamento entre eles. “Os pais têm passado muito tempo nas redes sociais e afastados dos seus filhos”, afirma. “Os filhos estão sendo pouco vigiados, e esse comportamento também pode ser uma maneira de chamar atenção”, completa.
Diálogo
A especialista afirma que os pais devem manter o diálogo tanto com os filhos, como com os amigos deles. Isso pode evitar que eles “se abram” com pessoas que podem estar mal intencionadas. Também é preciso estarem atentos aos sinais de alerta que os filhos podem demonstrar, como conversas com teor de violência, de armas. “Os pais também não devem valorizar a violência dentro de casa, a raiva, o ódio e nem a vingança”, opina Ana Izabel.
Em situações nas quais haja problemas de relacionamento com os filhos, ela aconselha a buscarem ajuda de profissionais como psicólogos, e, às vezes, até mesmo de psiquiatras. “As doenças mentais estão alcançando as crianças, de maneira que muitos têm dificuldades em resolver os próprios problemas e desafios, e acabam se fechando”, destaca.
Angústia
A mãe de um aluno, que preferiu não se identificar, relatou que não tinha conhecimento dessas ameaças, mas, ao chegar à unidade, assustou-se com a presença da PM e decidiu permanecer no local até o fim da aula. “Quero ter a certeza que nada vai acontecer, cancelei tudo para continuar aqui esperando”, afirmou.
Muitos pais preferiram deixar os filhos em casa. Outros souberam da ameaça depois e foram buscá-los. “Só de pensar que algo poderia acontecer, fico nervosa”, disse a avó de um aluno do 4º ano.
Breno Coelho, 41, tem dois filhos na unidade de ensino e tomou conhecimento das mensagens por meio de um grupo de pais. “Eu e a mãe deles decidimos que o melhor era nem irem à aula. Foi um baque”, contou. Para ele, os recentes acontecimentos de violência em escolas de São Paulo e do Rio de Janeiro influenciaram o autor das ameaças a querer a mesma atenção.
Por telefone, a filha de Breno disse que, em 27 de abril de 2022, o mesmo colégio encontrou uma ameaça escrita na parede de um banheiro feminino — “massacre dia 28/04/2022”.
Em comunicado oficial, a escola afirmou que, após as autoridades tratarem do assunto, tomará medidas que forem cabíveis ao caso.