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Percentual de desaparecidos que não foram encontrados dobra no DF

O percentual de desaparecidos não encontrados em 2022 é mais que o dobro do registrado em 2021. O número saltou de 15% para 35,7%.

Sofrimento diário. É como as famílias que lidam com o desaparecimento de um parente definem o período em que ficam sem notícias do ente querido. Quando a pessoa não é encontrada, a aflição é permanente. No Distrito Federal, no ano passado, 35,7% dos desaparecidos não foram localizados, e as famílias seguem divididas entre a angústia e a esperança.

O percentual de não encontrados em 2022 é mais que o dobro do registrado no ano anterior. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF), em 2021, cerca de 15,2% dos 2,1 mil desaparecidos não foram localizados. Já no ano passado — quando houve 2,4 mil sumiços — o percentual mais que dobrou.

Ainda de acordo com os dados da pasta, entre 2021 e 2022, a proporção de desaparecidos que foram encontrados após 181 dias também caiu.

O pai de Celimar Hilário da Silva, 51 anos, é um desses casos. Oswaldo Vicente da Silva sumiu aos 73 anos, em novembro de 2021. Hoje, com um ano e quatro meses sem notícias do pai, Celimar afirma que a família parou de viver e começou a “tentar sobreviver”.

“A vida não é mais a mesma coisa. A gente tem que seguir, trabalhar para pagar as contas, mas não é mais a mesma coisa. Queremos achá-lo mesmo que não esteja mais vivo. Participo de grupos de apoio e vejo casos de pessoas que desaparecem e são encontradas em 15 dias. Meu pai sumiu há um ano e quatro meses. É uma dor diária”.

Além do sofrimento de viver sem notícias de Oswaldo, Celimar afirma que sofre com falta de empatia. “Nós vivemos com a dúvida e queremos saber o que aconteceu. Então, buscamos por pistas e coisas que possam levar a ele. Mas quando tentamos levar à polícia ou vamos em busca de atualizações ouvimos a mesma coisa: ‘Já fizemos de tudo’. A gente se sente desprotegido.”

O desaparecimento foi registrado na 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia Centro).

“É uma coisa que eu não desejo para ninguém. Só de lembrar do meu pai, as lágrimas escorrem pelo rosto”, completa Celimar. Quem tiver informações sobre o paradeiro de Oswaldo pode entrar em contato com Celimar pelo telefone (61) 98235-1548.

Sem desistir

Ana Cleide Carlos de Moraes (foto em destaque), 47, está há um ano e três meses em busca da filha Sara Carlos de Moraes da Silva, 15. Ela sumiu em 16 de janeiro de 2022, após sair de casa, em Taguatinga, para ir ao JK Shopping, por volta das 9h.

“A gente vê acontecendo na família dos outros e acha que nunca vai acontecer com a nossa. Quando aconteceu, mexeu muito com a minha cabeça. Não é normal uma adolescente, hoje em dia, ficar sem nenhum acesso à internet e ao celular por tanto tempo. Mas, estou há mais de um ano sem qualquer notícia dela”, comenta.

Ana conta que toda a família foi afetada com o desaparecimento de Sara. “Eu estou com depressão e uma das minhas outras filhas também. Parei de trabalhar, porque passei a ter medo de qualquer coisa que pode acontecer com a gente”.

Segundo ela, quando procura a polícia para saber de possíveis atualizações do caso, obtém a mesma resposta. “Eles falam que estão investigando”. O caso de Sara é investigado pela Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) de Taguatinga.

Apesar do tempo, Ana reforça que não perdeu as esperanças. ” Eu estou desesperada. É muito ruim saber que tem um filho e não saber onde ele está. Por isso, qualquer ajuda é bem-vinda. Eu vou achar minha filha”.

Perfil dos desaparecidos

Ainda de acordo com os dados da SSP, entre 2019 e 2022, a maioria dos desaparecidos que tinha de 12 a 17 anos era de mulheres. Já na faixa etária de 18 a 40 anos, a maior parte das pessoas que somem são homens.

Considerando o total de casos registrados, a maioria dos desaparecimentos da capital nos últimos quatro anos são de homens — que correspondem a 62% total.

Procurada, a Polícia Civil do DF (PCDF) afirmou que “todas as ocorrências de desaparecimento são apuradas de maneira contínua, seja pelas circunscricionais ou por delegacia especializada”. A corporação também afirmou que realiza trabalho técnico de simulação da progressão de idade (envelhecimento facial) por meio do Instituto de Identificação (I.I./PCDF). “As imagens produzidas são divulgadas no site da corporação, auxiliando na localização das pessoas desaparecidas”.