Anúncio de construção de novos hospitais e UPAs, assim como a contratação de mais profissionais, estão entre as ações do governador Ibaneis Rocha para reduzir a crise. Pacientes reclamam da demora no atendimento.
A rede pública de saúde do Distrito Federal enfrenta uma séria crise, herdada de anos de descaso e agravada com a pandemia da covid-19. “Uma calamidade sanitária”, reagiu, em nota, o Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) depois de visita às instalações do Hospital de Base, em 11 de março.
Além disso, pacientes relatam uma demora excessiva no atendimento em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Samambaia e de Ceilândia. Em meio a isso, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) passa por processo de troca de comando. Para tentar reduzir a crise, o governador Ibaneis Rocha (MDB) confirmou a construção de pelo menos três hospitais. Além disso, o Iges anunciou, ontem, que o atendimento pediátrico será retomado nas UPAs. Ibaneis ressaltou que quer realizar “grandes entregas na área da saúde” em seu segundo mandato.
A primeira UPA a oferecer o serviço pediátrico será a de São Sebastião, devido à grande demanda por atendimento pediátrico na região. Para atender à escala integral, com médicos todos os dias por 24 horas, 16 pediatras vão compor a equipe. Atualmente, 12 pediatras estão escalados. Outras quatro vagas estão em fase de seleção. “A seleção de médicos é um dos maiores desafios de recursos humanos no Instituto (de Gestão Estratégica de Saúde), sobretudo para as UPAs, onde a demanda costuma ser alta e de muita pressão”, explica o diretor-presidente interino do IgesDF, Cléber Sipoli.
Pediatria nas UPAs é uma determinação do governador Ibaneis Rocha, e outras unidades deverão implementar o serviço posteriormente, como já há previsão para Recanto das Emas, onde também serão contratados 16 especialistas.
Novos hospitais
O edital para contratação de empresa responsável pelo projeto e obra de criação do Hospital do Recanto das Emas foi publicado na edição extra do Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) do último dia 16. A construção do hospital no Recanto das Emas era uma promessa de campanha de Ibaneis. O valor estimado do investimento é de R$ 147.638.223,91.
A obra do hospital será feita em uma área de 17 mil metros quadrados no Lote 25, Quadra 104, Setor Hospitalar, Recanto das Emas. A unidade terá 100 leitos, sendo 60 de internação adulta, 30 de internação pediátrica e 10 de UTI pediátrica. Além disso, a unidade contará com centro cirúrgico, pronto-socorro e instalação moderna de ar-condicionado.
“O hospital vem nesse momento de encontro a uma necessidade dessa população que não possuía leitos hospitalares. Nós vamos ter uma porta aberta de emergência pediátrica, considerando que não há esse atendimento nessa localidade, e vamos ter leitos de clínica médica de retaguarda, tanto leitos de enfermaria, como de cuidados intermediários”, explica a secretária de Saúde, Lucilene Florêncio. Esse é o primeiro dos três hospitais anunciados por Ibaneis na campanha para reeleição. A expectativa é de que em abril seja divulgado o edital para construção do Hospital do Guará e, em seguida, o de São Sebastião.
Novos profissionais
Em 6 de fevereiro, a então governadora em exercício do DF, Celina Leão, assinou decreto de nomeação de 1.236 novos servidores da área da saúde. A convocação envolve 437 médicos de 23 áreas, 220 enfermeiros, 125 odontólogos e 454 especialistas em saúde. Os futuros empossados foram aprovados em concursos de 2018 e 2022.
Além disso, na ocasião, a secretária Lucilene Florêncio divulgou estudos para construção de 17 Unidades Básicas de Saúde (UBS) e um hospital oncológico, cuja localidade não foi anunciada. A nomeação de novos profissionais de saúde possibilitará ainda o desbloqueio de leitos em unidades hospitalares. “Muitos hospitais estão com leitos bloqueados por falta de enfermeiros, técnicos e médicos”, esclareceu a secretária.
Troca de gestão
No último dia 15, em meio a polêmicas em unidades de saúde administradas pelo Iges-DF, a então presidente do instituto, Mariela Souza, foi desligada do cargo. O nome indicado e aprovado pelo Conselho de Administração do instituto para substituir Mariela é o de Juracy Cavalcante Lacerda, atual diretor de Atenção à Saúde da Secretaria de Saúde do DF. O nome dele precisa ser aprovado na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), onde o futuro titular será sabatinado. Depois, a nomeação deve ser publicada no Diário Oficial do DF. Até a finalização das formalidades, o então vice-presidente, Cléber Sipoli, assume a presidência interinamente.
Em 8 de março, Herbert de Oliveira da Silva, 15 anos, morreu na UPA de Samambaia, com quadro de insuficiência respiratória e reação alérgica. Um dia depois, Cidalva Prates Guedes, 57, faleceu após sofrer traumatismo craniano depois de cair da janela da UPA de Ceilândia. Em 10 de março, Warley Eduardo, 30, morreu após receber alta da unidade de Ceilândia.
Longa espera
Pacientes ouvidos pela reportgem, na última segunda-feira (20/3), nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Ceilândia I e de Samambaia relataram demora no atendimento. Com dor no pescoço, a atendente Marli Camargo, 45, buscou atendimento na UPA I, em Ceilândia que, segundo o Iges-df, conta com 34 médicos. Chegou às 7h30 e, às 11h30, ainda não havia sido atendida. “Estou aqui porque sinto muita dor. O tempo passa e a dor só aumenta. Estou sentindo a dor há três dias, como não melhorou, eu vim. A UPA está só enchendo e o atendimento não anda. De vez em quando, chamam um ou dois. Cheguei a ver gente passando mal aqui na fila”, contou. A secretária Deviene Rodrigues, 34, chegou às 7h na UPA I de Ceilândia e, às 11h30, ainda não tinha sido atendida. Ela chegou procurar atendimento um dia antes, no domingo, mas, como não conseguiu depois quatro horas de espera.
O instituto esclareceu ainda que a ordem de atendimento dos pacientes nas UPAs ocorre de acordo com a gravidade dos casos, analisados durante a classificação de risco. “A demora ocorre quando a unidade está operando acima de sua capacidade.”
Mas há casos em que o atendimento é rápido. O aposentado Joclides Rodrigues, 84, teve uma infecção urinária que o levou a precisar de uma medicação diária na veia. O homem chegou a ficar internado por três dias na UPA I da Ceilândia para tratamento. Depois disso, recebeu alta e tem retornado apenas para tomar a medicação. A filha de Joclides, Cláudia Rodrigues, 50, é quem tem acompanhado o pai diariamente na unidade de saúde. “Tudo tranquilo. Como meu pai é idoso, ele tem prioridade, portanto, sempre conseguimos ser atendidos com celeridade. Durante os dias que ele fico internado aqui também correu tudo bem”, contou.