Destaque, Economia

125 milhões de pessoas no país não sabem se vão conseguir alimentação

Insegurança alimentar atinge 60% dos domicílios brasileiros, segundo estudo elaborado por universidades do Brasil e da Alemanha. No fim do ano passado, mais da metade da população não tinha acesso garantido à comida.

Os pagamentos do auxílio emergencial e do Bolsa Família não evitaram o avanço da fome no Brasil durante a pandemia de covid-19. Estudo divulgado pelo movimento Food for Justice aponta que seis em cada 10 domicílios brasileiros passaram por uma situação de insegurança alimentar entre agosto e dezembro do ano passado. São 125 milhões de brasileiros que acordavam sem saber se teriam como se alimentar adequadamente.

O estudo foi feito pela Universidade Livre de Berlim em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e ouviu duas mil pessoas entre novembro e dezembro do ano passado. A conclusão foi de que a insegurança alimentar, que atingia 36,7% dos brasileiros em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alastrou no país no ano passado.

De acordo com a pesquisa, 59,4% dos brasileiros estavam em insegurança alimentar no fim de 2020, e 15% enfrentavam insegurança alimentar grave. Essa situação era mais comum em domicílios chefiados por pessoas pretas (66,8%) e por mulheres (73,8%); que têm crianças de até quatro anos (70,6%); e uma renda per capita mensal de até R$ 500 (71,4%). A insegurança alimentar também é mais frequente nos domicílios situados em áreas rurais (75,2%) e nas regiões Nordeste (73,1%) e Norte (67,7%).

“Um indivíduo do gênero masculino, cor branca, residente em área urbana da região Centro-Oeste, Sul ou Sudeste, com renda per capita acima de R$ 1 mil, é muito menos vulnerável do que um indivíduo do gênero feminino, cor negra ou parda, mãe de família vivendo em área rural ou nas regiões Norte e Nordeste”, concluiu a professora de sociologia na Universidade Livre de Berlim Renata Motta.

Para a pesquisadora, esse cenário é resultado tanto das desigualdades sociais quanto das escolhas políticas e da crise que atinge o país. O estudo explica que 45,5% dos entrevistados viram a renda encolher na pandemia de covid-19, e é nesses domicílios que estão os mais altos níveis de insegurança alimentar moderada (18,6%) e grave (21,6%). Mesmo nos domicílios que receberam o auxílio emergencial a taxa de insegurança alimentar é alta: 74,1%. A incerteza sobre a alimentação ainda é frequente nas casas que contam com a ajuda do Bolsa Família (88,2%) ou aposentadoria (56,4%).

A pesquisa constatou uma redução de 85% do consumo de alimentos saudáveis nos domicílios em situação de insegurança alimentar , sobretudo de carnes (44%), frutas (40,8%), hortaliças e legumes (36,8%). A menor foi do consumo de ovos (17,8%), que se tornaram um substituto da carne em muitas casas brasileiras.

Para Renata Motta, a situação teria sido pior sem o auxílio emergencial. Por isso, pede a manutenção do benefício e a revisão dos valores que estão sendo pagos pelo governo neste ano — R$ 150, R$ 250 ou R$ 375, de acordo com a formação familiar.

Real cai 8,9% ante o dólar em 2021

Após várias sessões de valorização, a moeda americana terminou o dia, ontem, com leve queda de 0,1%, cotado a R$ 5,718 para venda. Mesmo assim, o real continua sendo uma das moedas que mais se desvalorizaram no mundo. Segundo a Austin Rating, a divisa brasileira foi a sexta moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar, entre 120 países: despencou 22,4%. Em 2021, houve uma pequena melhora: está em sétimo lugar. Neste ano, até terça-feira, a perda frente ao dólar ficou em 8,9%, abaixo apenas das moedas de Sudão (-85,5%), Líbia (-70,4%), Venezuela (-52,5%), Haiti (-11,1%), Turquia (-9,4%) e Argentina (-9,2%).

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