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Fingindo ser servidor da Caixa, homem aplica golpe milionário

São ao menos 40 vítimas ouvidas pela PCDF. Estelionatário apresentava documentos falsos e oferecia condições atraentes de financiamento.

Um homem que promete transferir cartas de crédito contempladas de alto valor a pessoas que pretendem comprar carros e imóveis é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por estelionato. Gleisson Oliveira Lima, 32 anos, fez pelo menos 40 vítimas na capital do país e em outras duas unidades da Federação num golpe que chegou à casa dos milhões de reais.

modus operandi do investigado era elaborado. Gleisson se apresentava como representante da Caixa Seguradora, por meio da empresa BSB Soluções de Crédito, e dizia ter algumas cartas de crédito em nome dele que poderiam ser utilizadas como pagamento para compra de um bem. O fraudador oferecia uma entrada baixa, chamando a atenção das vítimas que pretendiam diluir os custos em grandes parcelas.

Uma das pessoas que caiu no golpe é a empresária amazonense Angélica Marques, 42. Em agosto do ano passado, ela foi apresentada ao estelionatário por meio de uma amiga, gostou das condições e deu R$ 40 mil por uma carta de R$ 700 mil. “Era para fazer uma construção em um terreno aqui. Ele me mostrou todos os documentos necessários, tinha contrato e também assinatura de pessoas da Caixa. O parcelamento era em 35 anos e, as taxas, menores do que em financiamentos tradicionais”, explica.

Tudo foi tão bem armado que Gleisson chegou a mandar uma pessoa a Manaus que se apresentou como engenheiro responsável por avaliar a possibilidade do negócio. Tanta informação que parecia segura levou Angélica a confiar no estelionatário. “Com a minha família, a gente ainda comprou mais duas cartas de carros, onde gastamos R$ 24 mil em cada uma, e fomos adquirindo cada vez mais. No fim, gastamos R$ 425 mil”.

A percepção de que poderia ser um golpe veio quando o prazo dado pelo criminoso para cada uma das compras foi acabando. “Ele começou a inventar desculpas de demora dos bancos, a família que tinha um doente. Até que meu sogro ligou na Caixa, e eles disseram que não havia nada daquilo que nos tinha sido prometido”, relata.

Angélica veio para Brasília na tentativa de surpreender Gleisson. Tão logo chegou ao escritório, deparou-se com outra pessoa que passava pela mesma situação e, foi aí, que a ficha caiu. “A gente não quer acreditar, né? Ele ainda tentou dizer que era algo pontual, um problema fácil de resolver, mas acabou que vimos a dimensão de tudo e fomos à delegacia”, diz.

Outra vítima, a auxiliar administrativa Sarah Monteiro, 25, conta que, em novembro do ano passado, recebeu a indicação de uma amiga para a empresa de Gleisson. “Comprei uma carta de crédito para adquirir um apartamento em Valparaíso de Goiás. Ela tinha valor de R$ 220 mil, e eu precisava pagar R$ 10,8 mil para já ter o imóvel”, explica.

Nesse caso, o problema foi ainda maior, pois a imobiliária aceitou as condições apresentadas pelo estelionatário e chegou a transferir o imóvel para o nome da vítima. “O pagamento que ele fez foi por meio de um cheque. Só que o banco veio avisar que aquela folha era de um talão roubado e não aceitou”, lembra. Por conta disso, foi necessário voltar o nome para o antigo dono.

A reportagem ainda conversou com duas moradoras de Brasília que caíram no golpe da mesma forma. Em um dos casos, a vítima chegou a ir até uma agência de banco para acertar os detalhes do contrato, mas, no local, ao perguntar pelo suposto gerente, foi informada de que não havia ninguém com aquele nome lá. “Eu ia comprar um apartamento de R$ 1,3 milhão e paguei R$ 75 mil. A construtora chegou a me alertar que as condições eram muito estranhas, mas acabei caindo na conversa dele”, lamenta.

A outra vítima gastou R$ 40 mil em uma carta de crédito que valeria R$ 555 mil. A construtora acertou, mas na hora que chegava ao banco tudo emperrava. “Ele apresentava todos os documentos, menos a procuração da Caixa, pois ele não tinha. O ponto é que ele enrolava tão bem, que parecia algo normal a demora”, destaca.

O que dizem os envolvidos

Procurada, a Caixa Consórcios informou que a empresa BSB Soluções de Crédito e Gleisson Oliveira Lima “não são parceiros” e nem estão autorizados a comercializar produtos em nome da instituição.

A Caixa ainda pontuou que não comercializa cartas de crédito contempladas e que já adotou as medidas cabíveis. No site de consórcios, há a relação de parceiros autorizados a comercializar os produtos.

“É importante que quem esteja interessado em adquirir um consórcio sempre pesquise sobre a empresa que está oferecendo o produto”, frisa a nota.

Já Gleisson não atendeu às ligações da reportagem.

O delegado da 12ª DP, Josué Ribeiro, informou que a PCDF já recebeu mais de 40 queixas contra o golpista. “Estamos fazendo as oitivas, temos os contratos, e o inquérito foi instaurado”.