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Pandemia: “Nunca vi tanta gente morrer na minha vida”, afirma profissional da linha de frente

Nesta terça-feira, força-tarefa Ação Conjunta encontrou série de inadequações no Hran. Trabalhadores da linha de frente contam como lidam com o excesso de trabalho e ausência de materiais de proteção e trabalho.

As redes hospitalares do Distrito Federal estão em estado crítico. Nesta terça-feira (9/3), a força-tarefa da Ação Conjunta contra a covid-19 realizou diligências no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e encontrou uma série de irregularidades. Profissionais da saúde da linha de frente relataram uma rotina exaustiva, além da falta de equipamentos e o alto risco de contágio nas unidades.

Uma técnica de enfermagem do Hran, que não quis se identificar, afirmou que falta o básico dentro da unidade. “Um caos total. Não tem respiradores, luvas, capotes e até sedativos. Alguns profissionais estão comprando materiais do próprio bolso. A gente pede o mínimo de respeito como servidor”, disse.

A profissional também contou que a equipe está sobrecarregada e o hospital está completamente lotado. “Alguns colegas estão com medo por terem comorbidade e podem ter que voltar para linha de frente”, conta.

Outras unidades de saúde também sofrem com a lotação e falta de recursos para trabalhar. No Hospital da Região Leste (antigo Hospital Regional do Paranoá), a médica pediatra Thatiana Ferreira Maia, 28 anos, conta que todos estão sofrendo com o colapso da saúde pública. “Faltam desde os mais básicos, como medicações e exames laboratoriais simples, até os mais avançados, como aparelhos de ventilação mecânica. O mais recente que faltou foi o salbutamol, o principal medicamento necessário para o tratamento de crises de asma em crianças”, relata.

Thatiana acredita que o profissional de saúde está desassistido no Distrito Federal. “Toda a falta de estrutura e insumos nos impede de fornecer o melhor da nossa capacidade de trabalho”, diz.

Outra que prefere não se identificar trabalha na UTI do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) e relata rotinas exaustivas, ausência de itens básicos, poucos profissionais e muitos pacientes. “Muitos colegas enfrentam jornadas duplas e triplas. O serviço noturno, plantões de 12h a 18h por dia, com grande sobrecarga física e emocional. Somos humanos, temos filhos, família. Não temos amparo psicológico. Uma consulta com psiquiatra ou psicólogo é uma ilusão na Secretaria de Saúde”, desabafa.

A fisioterapeuta Karine Cristina Silveira, 35, trabalha no Hospital de Forças Armadas (HFA) e define o dia a dia como desgastante. “Estamos perdendo paciente demais. Nunca vi tanta gente morrer na minha vida. É diferente de tudo que a gente já viu”, conta. Na unidade, os itens também são precários. “Falta tudo. Luva, máscara, capote, álcool, sabão. Uma máscara que teria que ser descartada na hora, ter que ficar com ela 15 dias. Isso não existe. Como você não contamina?”, ressalta.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) solicitou à Secretaria de Saúde (SES-DF), nesta terça-feira (9/3), informações sobre a atual demanda e o estoque de oxigênio hospitalar na capital. A requisição vem após o DF atingir taxas máximas de ocupação dos leitos nas unidades de terapia intensiva (UTIs) em vários hospitais. O órgão tem três dias para apresentar uma resposta à Corte. Até às 19h10 desta terça-feira, a taxa de ocupação dos leitos estava em 90,96%.