A corporação investiga a conduta do servidor, que, além de policial, é vereador no município de Água Fria de Goiás.
O delegado da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) Laércio de Carvalho Alves foi denunciado por funcionários de uma companhia aérea por abuso de autoridade e ameaça após ser impedido de embarcar armado no Aeroporto Internacional de Brasília. A corporação investiga a conduta do servidor, que além de policial é vereador no município de Água Fria de Goiás.
O caso ocorreu no último mês e foi registrado em 18 de dezembro, por meio de denúncia à Corregedoria-Geral da PCDF. Segundo informações o policial chegou ao terminal à noite, por volta das 20h, para pegar seu voo com destino a João Pessoa (PB), com conexão via Campinas (SP).
Segundo regra da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), é necessário embarcar com prazo de antecedência de 1h30, principalmente no que diz respeito ao procedimento de despacho de arma. Carvalho, não obstante, chegou faltando seis minutos para o encerramento no check-in, segundo informações da companhia.
O policial apresentou a guia autorização de despacho de arma no balcão. O documento, porém, não estava completo,. De acordo com a companhia área, faltava o trecho de conexão. A falta da informação compromete o transporte do armamento, pois há risco de a arma não chegar ao destino final.
O delegado foi orientado a seguir para o posto da Polícia Federal, no aeroporto, para pegar uma guia correta. Ele também foi alertado sobre o horário de encerramento do voo que, naquele momento, faltava apenas um minuto.
“Ele repetia dizendo que ia embarcar de um jeito ou de outro. Disse que a família dele estava no avião. Ficava repetindo que ‘essa merda de menina’ não resolve nada”, contou a vítima.
De acordo com os funcionários, o delegado ficou completamente alterado e saiu do check-in ameaçando. ”Eu vou embarcar sim, se eu não embarcar, você vai ver! Vai dar merda para você”, teria dito várias vezes.
Segundo o relato, Laércio Carvalho retornou depois de 15 minutos com a guia de despacho de arma correta. Porém, foi mais uma vez informado que não havia tempo hábil de fazer o procedimento. Um colaborador da companhia aérea explicou que poderia trocar o voo dele para o próximo, sem custo. No entanto, o delegado, alterado, seguiu com as ameaças.
“Ele batia na tela de proteção contra o Covid, batia no meu computador, e super alterado falava que ia dar merda para mim, com gestos ameaçadores. Gritava no check-in, e ironicamente falava que eu estava ‘fazendo ele de moleque, tratando como palhaço, que eu não resolvia nada, pedia para chamar a supervisora’”, relatou a vítima.
Segundo o registro, o policial ainda teria dito: “Depois morre e ‘neguinho’ fica chorando”. “Tentei manter a calma, mas, na medida que ele falava e gesticulava, eu sentia medo. Percebi que comecei a ficar ofegante e tremendo. Tive medo dele atirar”, completou.
O funcionário ressaltou que o policial estava “super furioso” e que todos ao redor estavam vendo. O episódio foi registrado por câmeras do aeroporto e presenciado por pessoas que passavam pelo local. “Todos os clientes viram o abuso de autoridade dele e como ele nos desrespeitou com comportamento agressivo”, contou.
A Polícia Federal do aeroporto foi chamada, pois, segundo as testemunhas, “não tinha ninguém que acalmasse Laércio”. Com a presença da PF, a companhia aérea conseguiu acomodá-lo em outro voo. A vítima lembra que, mesmo com a PF no local, o delegado se alterava muito. Um agente federal tentou apaziguar a situação varias vezes.
“Se trata de uma autoridade que teria de ser uma referência para a sociedade. No entanto, se aproveita de sua prerrogativa de delegado para cometer abuso de autoridade, impondo o que não lhe é de direito”, desabafou a vítima.
O caso é investigado pela Corregedoria-Geral da PCDF. O nome da companhia não foi revelado, no momento, a pedido da vítima.
A versão do delegado
O delegado negou veementemente as acusações. Explicou que não houve qualquer tipo de crime e que foi o maior prejudicado com a situação. Relatou que desde o começo estava com a documentação e que a funcionária não prestou o atendimento correto. Afirmou, ainda, ter se sentido lesado, pois, mesmo conseguindo um novo documento, não conseguiu embarcar.
“O voo ainda atrasou 50 minutos. Eu poderia ter embarcado. Em nenhum momento usei do meu cargo para obter qualquer vantagem. Eu era um cliente como qualquer outro. Não existe agressão ou crime de qualquer ordem. Na realidade, eu fui vítima da desorganização da empresa. Tenho as duas guias que autorizariam o despacho da arma, mas nem assim consegui embarcar”, defendeu o delegado.